Desabafo-afo-afo

Faz duas semanas que eu sinto uma necessidade inexplicável de te escrever, mas não o fiz (não sei se porque me faltavam palavras ou se porque escrever significaria materializar em um escrito uma verdade que, até então, eu tento negar). Entretanto, sinto que não devo mais adiar: hoje, 18 de setembro de 2013 (infelizmente, exatos 12 dias desde que você se foi), eu decidi que deveria escrever sobre você.
Foto: Bastidores da Notícia
Não sei como começar e sei muito menos o que eu, de fato, quero escrever... O que sei é que a cada dia a sua ausência se faz mais presente, em cada sorriso meio troncho que eu arranco de mim mesma e em cada abraço que eu recebo enquanto me forço a esconder as lágrimas que insistem em querer escapar. Me esforço para reprimi-las não por ter vergonha de chorar, mas porque sei que era você o maior admirador do meu sorriso, principalmente quando ele vinha difícil e, ainda assim, eu conseguia sorrir.
Com alguma frequência, me pego rindo sozinha ao relembrar momentos que vivemos juntos e pensando no quão egoísta é eu querer guardar tão fundo aqui dentro aquilo tudo que é tão nosso! Levo comigo cada riso teu, cada mania, cada gesto, cada sussurro, cada palavra que você soprou no pé do meu ouvido... Dos nossos "segredos de liquidificador", só nós dois sabemos. Cada tarde que eu passei perdida no teu olhar foi, com toda certeza do mundo, um sopro de felicidade que eu tive o prazer de sentir.
E agora, meu moreno, como eu vou me acostumar a não compartilhar contigo cada fragmento do meu dia? Quem vai me proteger e mandar o meu medo pra longe só com um abraço? Quem vai imitar os meus trejeitos só pra me fazer rir? Quem vai suportar os fragmentos mais insuportáveis de mim e me fazer feliz sem cobrar em troca nada além do que eu esteja disposta a oferecer?
Não sei o que eu vou fazer com todos os planos que tínhamos pra nós dois e confesso pra você que a minha vida ainda não voltou pro seu eixo de equilíbrio e num sei quando isso vai acontecer, mas por mais que o tempo passe, atenue a dor e me traga novas experiências, lugares e pessoas, a certeza que eu tenho é que eu vou sempre lembrar com alegria do menino que cuidou de mim, me fez tão bem e, depois, virou um anjinho que foi brilhar lá no céu.
Carol Meireles

Hey mãe, eu tenho uma guitarra elétrica



Lembro que a um tempo, uns dois, três anos atrás, eu prestei meu primeiro vestibular : tentei Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, na Universidade Federal de Sergipe - UFS. Lembro de ser cansativo, de ter feito quatro dias de provas, de esperar ansiosamente pelo resultado, de ficar em primeiro na lista de excedentes, de contar os dias pela lista, de me considerar "praticamente dentro" já que sempre desistiam uns dois ou três... E, por fim, lembro de não ter desistido ninguém. Lembro do choro, da frustração e, principalmente do choque de rotina que se seguiu durante todo o ano, já que tendo terminado os anos regulares de educação básica, nada me restava além de esperar o fim do ano e uma nova leva de vestibulares - e foi justamente essa falta de ocupações que quase me fez perder a cabeça.
Passei todo o ano de 2011 desejando com todas as minhas forças o dia em que um processo seletivo desse o ar da graça e me levasse pra qualquer canto. Queria ir embora, queria viver coisas novas, conhecer gente nova (coisa que a condição de morar desde que me entendo por gente na mesma cidade de trinta e poucos mil habitantes não permitia), aprender a me virar no mundo e, mais que tudo, ocupar a cabeça e ter algo realmente produtivo a fazer. No comecinho de 2012, me inscrevi no SiSU e fui chamada para fazer Ciências Biológicas na Universidade do Estado da Bahia - UNEB, em Paulo Afonso. Interior da Bahia, cidade que eu já conhecia, pertinho de casa... Mas fiquei feliz porque tudo que eu mais queria naquele momento (continuar estudando, morar fora, conhecer gente, etc etc) estava ali, na minha frente, esperando eu estender os braços e tomar pra mim.
 Hoje faz um ano e uns 2 ou 3 meses que eu comecei minha vida nova. Conheci um monte de gente, comecei a faculdade, me apaixonei perdidamente por um curso que incialmente não era exatamente o que eu queria (amor construído: taí uma das coisas que eu passei a acreditar), revi milhares de conceitos, reaprendi a fazer amizades, aprendi na maioria das vezes errando e meio tropeçando, me tornei hoje uma pessoa muito mais forte, muito mais racional e, mais que isso, aprendi que eu consigo me virar e lidar com minhas próprias emoções, por mais difícil que isso seja. O problema é que, mesmo assim, ainda parece que falta alguma coisa.
Se eu fosse escolher uma música que representa o meu momento de agora, eu escolheria (sem dúvida alguma) Terra de Gigantes, do Engenheiros do Hawaii. Na música, o eu-lírico canta que "hey mãe, eu tenho uma guitarra elétrica / durante muito tempo era tudo que eu queria ter/mas, hey mãe, alguma coisa ficou pra trás/ antigamente eu sabia exatamente o que fazer". É como se a minha guitarra elétrica fosse esse sonho, essa ânsia de ir embora e de respirar tudo que era novo. E que no meio disso tudo, eu tenha esquecido um pedaço de alguma coisa perdida em qualquer canto. E que eu começasse a sentir falta exatamente do certo, do automático, daquilo que eu já sei como fazer desde sempre, daquilo que eu sempre vivi, todos os anos da minha vida.
Hoje eu conto os dias pra que chegue o fim de semana, únicamente pra voltar pra minha casa, pra minha cidade, pra minha zona de conforto - aquela mesma que eu desejei com tanta força deixar pra trás - como se a minha fonte de energia, de força, de vontade pra ir em frente se encontrasse no único lugar no mundo onde eu consigo me sentir em casa: exatamente o lugar onde eu passei 17 anos da minha vida e que vive em mim, por mais que eu vá pra longe. 

Um beijo,
Carol Meireles.

Woodstock: Os 3 dias que mudaram o mundo

Muito se faz e se fala em termos de shows e festivais. Ano após ano, apaixonados por música desembolsam algumas centenas de reais em eventos musicais, em busca de entretenimento e diversão, mas foi pagando apenas 18 dólares quase meio milhão de pessoas acompanharam aquele que seria um dos maiores (se não o maior) festivais da história mundial: o Woodstock Music & Art Fair


Realizado numa fazenda em Bethel (NY, EUA) entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, reuniu cerca de 33 artistas, dentre os quais destaco Jimi Hendrix, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin e Santana, que trataram de animar o público que ansiava por diversão. Foram vendidos aproximadamente 168 mil ingressos antecipados e o público estimado eram de 200 mil, mas o que se viu nos dias do festival foi uma multidão de mais de 400 mil pessoas derrubando cercas, provocando congestionamentos e invadindo a fazenda que seria palco do evento que marcou a história da música. 

Uma reflexão sobre... Casamento Civil Igualitário



Pra início de conversa, devo lembrar ao leitor mais desatento que o nosso país – uma República Democrática – é regido por uma Constituição Federal e todas as leis em vigor em território nacional devem ser compatíveis com o seu texto. A nossa Constituição dedica uma parte considerável apenas para esclarecer os “direitos e deveres fundamentais”, inerentes a cada cidadão – brasileiro nato ou naturalizado – e é nessa parte que está um trecho que é, talvez, o mais importante de todo o documento. O trecho em questão é a introdução do Art.5º, que diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” e é exatamente esta passagem que vai servir de base pro que você lerá a seguir. 

Imagem: Lidi Amaral
Muita gente (entre homens e mulheres), quando faz planos pro futuro, inclui casamento em tal planejamento. Alguns vão mais longe: pensam em como seria a cerimônia (neste caso, a união civil), idealizam o cônjuge ideal, imaginam se comunhão ou separação de bens seria mais acertado e, até mesmo, a casa perfeita pra comportar isso tudo. Acontece que algumas pessoas tem esse sonho barrado por nascerem diferentes e, simplesmente por amarem alguém do mesmo sexo, estão condenados a viver a margem daquele que deveria ser um direito constitucional: o matrimônio.
Alguns argumentam que a homossexualidade é “anti-natural”, mas sabe-se que o ser humano não é a única espécie que apresenta tal “comportamento”, outros se apoiam na religião para defender a ideia de que uma união homoafetiva é algo a ser repudiado, mas esquecem que o Brasil é um estado laico e nenhuma crença deve interferir na formulação de leis. Ora, se o país protege constitucionalmente a liberdade de exercício de toda ou qualquer crença (ou mesmo a falta desta), qual o sentido de uma única crença (que pode até ser da maior parte da população, mas não é a da sua totalidade) reger mesmo a vida daqueles que não creem nela? Outros alegam que o objetivo de um casamento é a procriação, mas seguir esta lógica seria afirmar que casais estéreis – ainda que formados por um homem e uma mulher – não poderiam firmar um matrimônio. Outros ainda falam em “ditadura gay”, como se a garantia da igualdade de direitos entre homossexuais e heterossexuais ferisse o orgulho do segundo grupo, que sabe-se lá porque se julga superior.
O primeiro passo, no Brasil, foi reconhecer a União Estável entre pessoas do mesmo sexo, mas ainda não é o suficiente, visto que o ideal é que tanto casais homoafetivos quanto heteroafetivos tenham direitos iguais no que se diz respeito não só a união, mas também ao casamento civil – objeto de luta da campanha pelo Casamento Civil Igualitário. Para homens e mulheres heterossexuais, nada mudaria. Para homens e mulheres homossexuais, bissexuais e/ou transexuais, seria uma conquista incomparável: a garantia da permissão para amar livremente, constituir família e realizar aquele que é o sonho de muita gente, como citei no começo deste mesmo texto. Então, porque haveria algum problema permitir que gays se casem, se não iria alterar em absolutamente nada a vida de quem não é gay?
O problema, prezado leitor, é que o brasileiro tem confundido liberdade de expressão com liberdade de opressão. É muito fácil dizer que os LGBT quer “direitos demais” quando todos os direitos que a classe busca já são assegurados por lei para quem é heterossexual. É muito fácil dizer que alguém escolhe ser gay quando não se sente o preconceito, a violência e a intolerância na pele. E é mais fácil ainda é afirmar que homossexualidade é sinônimo de promiscuidade, quando é você mesmo que milita por uma constituição familiar quadrada e retrógrada, que se encaixaria perfeitamente em um folhetim global passado na década de 20.

Um beijo,
Carol Meireles

Volta as aulas e a recepção dos calouros

Na segunda-feira (18.03) as minhas aulas retornaram (pra quem não sabe, eu estou no 3º período de Ciências Biológicas pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia) e a minha turma preparou uma recepção pra turma recém-chegada, pra apresentar os departamentos da Universidade, algumas linhas de pesquisa na área da Biologia, promover interação entre calouros e veteranos e, evidentemente, aplicar o famigerado trote dos bixos. Para iniciar os trabalhos, organizamos uma tarde de diálogos e palestras com estudantes, professores da casa, coordenador do curso e diretor do Campus, de forma a proporcionar aos novatos uma visão geral do ambiente acadêmico e do leque de possibilidades que o curso traz.
Palestras com o Prof. Edilson (Diretor do Colegiado de Ciências Biológicas), a Prof. Josilda Lima, o Prof Dorival Pereira (Diretor do Depto. de Educação - Campus VIII), a Prof. Francyane Tavares, os discentes Edson Braz e Jéssica Vieira e, por fim, uma brincadeira do discente Dogivan Frazão

Depois das palestras, o pessoal leu o Juramento do Calouro (não tenho o texto integral, mas era uma versão beeeeem mais light desse que tem aqui), colocaram música pra tocar e deram início ao tão esperado BAAAAAAAANHO DE TINTA (e purpurina, porque somos um arraso) \O/

Juro que demorei uns três banhos pra me livrar da purpurina que "respingou" em mim!
Terminada a sessão obra de arte (risos), fomos apresentar os departamentos do Campus e explicar o que funciona onde e quem são os funcionários da Universidade. Foi bem bacana e eles se divertiram mais do que a gente, até! HAHA. Vale mencionar que o trote deve ser uma brincadeira pacífica e que só deve ser aplicado naqueles que concordarem em participar, ein? É bacana passar essa tradição de turma pra turma e, além do trote, criar vínculos de amizade com a galera que ta entrando, ajudar e dar dicas sobre professores e funcionamento da instituição, até porque no ano anterior era você que estava meio completamente perdido.

Um beijo,
Carol Meireles

Juliete, nunca mais

Imagine a história de um rapaz gaúcho que trabalha num café em Porto Alegre para pagar suas próprias contas enquanto sua carreira de escritor não decola. Imagine que esse café se chama Sta Gemma e que cada mesa tem o nome de um escritor consagrado - cuidadosamente escolhidos pelo moço acima citado. Moço este que tem um excelente gosto literário e musical, que acredita que garotas não sejam exatamente confiáveis, que não tem berço, dinheiro, uma formação admirável ou uma conduta diferente de tantos outros rapazes da sua idade que contabilizam casos de amor com duração de uma noite. A história de Santiago Ventura, nosso herói, muda quando Juliete uma estudante de psicologia de classe alta, típica burguesinha, amarrada num relacionamento que não deseja por pura convenção social e dona de uma personalidade no mínimo peculiar adentra o Sta Gemma as dez e tantas (quase onze) da noite, com o rosto lavado de lágrimas, com aquela ladainha de que tudo é decorrência do machismo e, sabe-se lá porque, "papeando sobre sua infância e filmes favoritos com rapazes pobres e estranhos e metidos a escritor", ou mais precisamente, com um rapaz pobre e estranho e metido a escritor: o próprio Santiago (ou Santi, se você se chamar Juliete).
Reprodução. Juliete Nunca Mais

Este é o pontapé inicial de "Juliete Nunca Mais", blog-novela de Gabito Nunes, escritor gaúcho como seu personagem, autor de quatro livros de contos e crônicas (entre eles "A manha seguinte sempre chega" e "Não sou mulher de rosas") e de um romance recém lançado ("Ao Norte de mim mesmo")* que, seguindo os moldes dos contemporâneos do Romantismo decidiu publicar a história de Santiago e Juliete no formato de folhetins periódicos, matando de ansiedade o leitor mais assíduo. O enredo tem tudo para ser um "clichêzão", mais do mesmo que a gente tanto vê por aí (romance proibido entre pessoas de classes distintas e tal) surpreende pela originalidade de tantos outros elementos e, acima de tudo, pela franqueza dos personagens (principalmente de Santi, que narra em primeira pessoa). Por vezes, torci pelo romantismo as avessas do anti-herói e sofri junto com ele, na sua tentativa de resgatar o cafajeste incurável que existia antes da chegada da "Baby Julie".
O projeto que começou se forma despretensiosa (era só um conto que os leitores pediram continuação, segundo o autor) já está em sua segunda temporada e, cá pra nós, está ficando cada vez mais envolvente a cada capítulo lançado. Como se já não estivesse muito bom, lá no site também foi disponibilizada a trilha sonora que embalou a criação do folhetim, sendo dividida por temporadas e atualizada esporadicamente pelo próprio Gabito.
Todos os capítulos são disponibilizados online (gratuitamente!) no site (clique aqui :P). Pra conferir outros textos e novidades do autor, você pode acompanhar no site oficial dele, clicando aqui.

Um beijo,
Carol Meireles.

*com informações do site www.gabitonunes.com.br

Quanto custa um sorriso?

Hoje eu fui numa cidade aqui perto, pra resolver umas coisas e voltar no mesmo dia. Na volta, vinha comentando com uma tia como a terra tá judiada, como a seca tá maltratando e como isso é tão visível, tão gritante até mesmo pra gente que estava só passando pela BR. Durante a viagem, passamos por algumas pessoas que vendiam frutas, arriscando suas vidas no acostamento pra tentar conseguir uns trocados e enganar a fome. Numa dessas, resolvemos parar e comprar alguns cajus.
Imagem: Roedores de Livros



Olhei pelo vidro e vi um menino magrelo, pequeno (devia ter, no máximo, uns 6 anos) correndo em nossa direção e assumindo seu posto, do lado da bacia de cajus. "É 5 real, dona" - falou olhando pra minha tia, com um olhar tão vazio que doeu em mim. Lembrei que tinha uns doces na bolsa, tinha comprado pra levar pro meu sobrinho. Catei alguns, desci do carro, fiquei segurando enquanto observava a negociação pelas frutas. O menino me olhava, meio de rabo de olho e eu retribuía o olhar, sem saber o que falar. Terminada a venda, eu estendi os doces pra ele e ele ficou me encarando, sem saber o que fazer... "Pega, vai" - falei, sorrindo. Ele sorriu de volta, agradeceu e, como mágica, vi o olhar do pequenino se enxer de uma luz tão bonita!
Não sei o nome dele, mas gostaria muito de saber. Sei que foi pouco, foi só um pouco de açúcar que não vai fazer falta alguma pra mim, mas foi o preço de um sorriso tão bonito! O que custou quase nada pra mim foi muito pra ele, que desde pequeno tá na luta, de sol a sol pra conseguir um pouco de comida, trabalhando quando deveria estar estudando, brincando como toda criança. Não sei também se vou voltar a ver o pequenino-sem-nome, mas gostaria muito que isso acontecesse e que, da próxima vez, ao invés de um punhado de doces eu pudesse dar a esperança de um futuro bom pra'quele que, apesar de brasileiro, parece tão esquecido pela própria nação.

Você iluminou meu dia, menino.

Um beijo,
Carol Meireles

Uma reflexão sobre o fazer pedagógico

Pink Floyd by Another Brick In The Wall (Part 2) on Grooveshark

Quando se aceita a tarefa de ensinar, é necessário ter em mente que a missão não será cumprida apenas com a transmissão mecânica de conceitos. É preciso ensinar a pensar. É preciso mostrar como é ser gente, ser cidadão. É necessário colocar uma pulguinha atrás da orelha e deixar claro que é preciso coçar. Coçar, coçar, coçar... Até a pulguinha se aquietar. E aí, colocar mais outra, e outra, e outra, pra que o aluno não deixe de coçar. Não deixe de buscar, não deixe de tentar, não desista de aprender. Educar é abrir a porta e dizer "ó, o mundo tá ali e pode ser seu, mas você precisa aprender como tomar posse dele". Educar é provocar: tirar da zona de conforto e jogar o pensamento além do imaginável. 

Imagem: Reprodução/Filme "Pink Floyd The Wall"
Formar gente que não engole, não abaixa a cabeça. Formar gente que não tem preguiça de pensar, que não vai crescer pra ser mais um tijolo no muro. Formar gente. Formar PESSOAS. Formar cidadãos. Formar críticos, contestadores, mentes inquietas e doidinhas pra descobrir as coisas e as verdades das coisas. É fácil demais manipular gente alienada. Uma sociedade burra não rompe amarras, não corre atrás do que é seu, não exige o que tem direito. O papel do professor é o mais bonito, o mais poético (por que não?) e o mais importante, dentre todas as profissões. É até clichê mas, o que seria dos médicos, advogados, físicos, cientistas e quaisquer outros profissionais que se possa imaginar se, lá atrás, não tivesse um professor que motivasse, plantasse a sementinha da curiosidade, instigasse a buscar, conhecer, desbravar esse mundão todo? Fui (e sou) aluna do sistema público de ensino, tive sorte de ter tido professores excelentes (passei por alguns "mais fracos" como era de se esperar na rede pública, mas não posso deixar de reconhecer aqueles que fizeram um trabalho bem feito) e tanto em casa quanto na escola, aprendi como deve ser um bom professor. Aquele que te põe pra pensar, que faz refletir e analisar todos os aspectos sociais possíveis em cada momentinho em que a mente resolve dar um descanso. Aquele que te dá uma noção de mundo que te empurra pros leões da vida real. 
Como sempre me dizia uma certa professora no primeiro período da minha graduação, "só o conhecimento da poder". Só o conhecer pode defender, salvar, armar, acabar uma guerra e impulsionar uma revolução. Só o conhecimento é capaz de mudar o mundo e, mais importante que isso, a visão das pessoas sobre o mundo. E é no meio disso que eu percebo que, mesmo tendo caído de paraquedas, caí no lugar certo, que a licenciatura em Ciências Biológicas é o que realmente me espera lá na frente. Espero não somente ser uma boa professora no futuro, mas conseguir extrair aquilo que de melhor eu notar naqueles que foram - e que ainda serão - os meus mestres. E que num futuro próximo eu seja uma semeadora: uma formadora de mentes brilhantes. Que pensam, que debatem, que argumentam, que leem, que analisam, que buscam e que contestam.

Um beijo,
Carol Meireles

Indicações musicais de março!

Mês passado eu fiz um post indicando 5 bandas que eu conheci do fim do ano passado pro começo desse ano e, além dos comentários no blog, muita gente veio falar comigo dizendo que amou as indicações e perguntando quando eu iria postar novas bandas por aqui. Pensando nisso, resolvi que eu vou tentar postar indicações pelo menos uma vez por mês (veja bem, vou tentar! haha). Vamos lá?

Alexandre Nero

É, aquele lá da globo mesmo, rs. Vi esse moço na tv lançando o CD "Vendo Amor - Em suas mais variadas formas, tamanhos e posições", acho que a uns dois anos atrás... Achei o nome do disco interessante, mas poxa, mais um ator global se metendo a ser cantor? Já me bastava Suzana Vieira! Torci o nariz, não quis saber, não quis ouvir. Daí, dia desses apareceu na minha timeline um videoclip dele cantando "Não aprendi dizer adeus", do Leonardo com uma roupagem completamente diferente, suave, incrível... Nem parecia ser a mesma música. Aí me rendi e fui ouvir o album inteiro: foi amor de primeira. No canal do Alexandre no youtube também tem uns clipes bem legais =P
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Alexandre Nero by Carol Meireles on Grooveshark

Nino & The Otter

Eu costumo dizer que música é um troço tão mágico que as vezes ela simplismente vem atrás da gente - que foi o caso de "Como eu conheci Nino & The Otter". Dia desses eu fui checar quem tinha me dado unfollow no twitter e me apareceu o perfil dessa banda que eu nem sabia que me seguia, que existia, de onde vinha e pra onde ia. A banda - que na verdade é uma dupla - é formada por Leonardo e Beatriz, que se conheceram em 2007, começaram a tocar em 2010 e a "levar a sério" (gravar demo, jogar na internet, divulgar) em meados de 2011. No carnaval de 2012, se juntaram a dupla a clarinetista Tamina Rody e o músico Pedro Ryan (que inclusive ajudou na produção do album, completamente independente e autoral!). O nome do projeto veio do amor de ambos por lontras e pelo filme Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain.
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Casaca

Essa aqui foi indicação de um amigo lá do Espírito Santo! A banda formada em 2000 na praia da Barra do Jacu, em Vila Velha - ES, tem 8 integrantes e já lançou 3 discos e 3 EPs, sendo que o de maior (de 2001) vendagem teve uma tiragem de 60 mil cópias! Confesso que não conhecia quase nada de cultura capixaba e acabei gostando bastante do som do Casaca. É gostosinho de ouvir, dá vontade de mexer, a voz é legal, as letras são bem bacanas e... enfim! Não tenho muito o qu diz. "Marina é a minha preferida"! 
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Casaca by Carol Meireles on Grooveshark

Então, curtiram? 
Se tiver alguma sugestão de música, banda, disco pode me mandar por comentário, pelo twitter ou facebook, ok?

Beijão
Carol Meireles

As vidas de Amélia: uma história de repressão

Desconstruindo Amélia by Pitty on Grooveshark


Nasci na Europa, na Idade Média, nasci filha de camponeses, igualmente camponesa. Sempre vivi da terra, sustentei minha família com o que plantava e os curava com a sabedoria das ervas, o poder que vinha da natureza. Sabíamos dos dias de chuva e dos dias de sol graças aos sinais que o próprio planeta nos trazia, éramos felizes com o pouco que tínhamos. Quando chegou a nova religião, ouvíamos falar que os chás, as infusões, o nosso sistema de crença eram artes das trevas e que deveriam ser banidas. Não conseguia entender! Como o conhecimento que recebi das minhas antepassadas poderia fazer algum mal? Passei a compreender que a melhor forma de vencer uma ameaça é despertar o medo nas pessoas. E a nossa crença era uma ameaça ao clero: quanto mais continuassem acreditando no saber dos antigos, menos seriam fiéis do novo sistema e menos dinheiro, poder eles teriam. 

Vi com os meus próprios olhos os meus irmãos, pais, avós serem queimados e, em seguida, eu também fui: torturada, queimada por não seguir o paradigma imposto por aqueles que detinham autoridade. Eles se autoproclamavam Santos Inquisitores, diziam que eu era herege e que merecia queimar, pelo amor de Deus. Mas eu não via sentido nisso! Eles mesmos não proclamavam que deveríamos “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”? Vi, inclusive, a imagem da mulher mãe, anciã, detentora de sabedoria cair por terra, porque no novo sistema era o homem que tinha voz e vez.
Viajei alguns séculos no tempo, atravessei o oceano, fui parar em um país tropical, quente, em que existia gente de todas as cores e credos, o Brasil, e por toda essa miscigenação achei que seria diferente. Ledo engano. Fui negra, filha de escravos. Nasci numa senzala imunda, fui forçada, escravizada desde a infância. Vi o meu pai atado ao tronco, apanhando e ao invés do suor que o trabalho árduo o fazia derramar, vi seus poros jorrarem sangue. Senti o sofrimento de perto, vi meus irmãos de cor serem castigados, tratados como nada e eu, por ser mulher, senti a segregação de forma ainda mais forte: se meus irmãos não podiam frequentar a escola, eu muito menos. E nas rodas de capoeira, onde eles aprendiam a se defender, disfarçados atrás de uma suposta dança, cuja qual eu não podia dançar. Quem já viu mulher lutar?