Desabafo-afo-afo

Faz duas semanas que eu sinto uma necessidade inexplicável de te escrever, mas não o fiz (não sei se porque me faltavam palavras ou se porque escrever significaria materializar em um escrito uma verdade que, até então, eu tento negar). Entretanto, sinto que não devo mais adiar: hoje, 18 de setembro de 2013 (infelizmente, exatos 12 dias desde que você se foi), eu decidi que deveria escrever sobre você.
Foto: Bastidores da Notícia
Não sei como começar e sei muito menos o que eu, de fato, quero escrever... O que sei é que a cada dia a sua ausência se faz mais presente, em cada sorriso meio troncho que eu arranco de mim mesma e em cada abraço que eu recebo enquanto me forço a esconder as lágrimas que insistem em querer escapar. Me esforço para reprimi-las não por ter vergonha de chorar, mas porque sei que era você o maior admirador do meu sorriso, principalmente quando ele vinha difícil e, ainda assim, eu conseguia sorrir.
Com alguma frequência, me pego rindo sozinha ao relembrar momentos que vivemos juntos e pensando no quão egoísta é eu querer guardar tão fundo aqui dentro aquilo tudo que é tão nosso! Levo comigo cada riso teu, cada mania, cada gesto, cada sussurro, cada palavra que você soprou no pé do meu ouvido... Dos nossos "segredos de liquidificador", só nós dois sabemos. Cada tarde que eu passei perdida no teu olhar foi, com toda certeza do mundo, um sopro de felicidade que eu tive o prazer de sentir.
E agora, meu moreno, como eu vou me acostumar a não compartilhar contigo cada fragmento do meu dia? Quem vai me proteger e mandar o meu medo pra longe só com um abraço? Quem vai imitar os meus trejeitos só pra me fazer rir? Quem vai suportar os fragmentos mais insuportáveis de mim e me fazer feliz sem cobrar em troca nada além do que eu esteja disposta a oferecer?
Não sei o que eu vou fazer com todos os planos que tínhamos pra nós dois e confesso pra você que a minha vida ainda não voltou pro seu eixo de equilíbrio e num sei quando isso vai acontecer, mas por mais que o tempo passe, atenue a dor e me traga novas experiências, lugares e pessoas, a certeza que eu tenho é que eu vou sempre lembrar com alegria do menino que cuidou de mim, me fez tão bem e, depois, virou um anjinho que foi brilhar lá no céu.
Carol Meireles

Hey mãe, eu tenho uma guitarra elétrica



Lembro que a um tempo, uns dois, três anos atrás, eu prestei meu primeiro vestibular : tentei Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, na Universidade Federal de Sergipe - UFS. Lembro de ser cansativo, de ter feito quatro dias de provas, de esperar ansiosamente pelo resultado, de ficar em primeiro na lista de excedentes, de contar os dias pela lista, de me considerar "praticamente dentro" já que sempre desistiam uns dois ou três... E, por fim, lembro de não ter desistido ninguém. Lembro do choro, da frustração e, principalmente do choque de rotina que se seguiu durante todo o ano, já que tendo terminado os anos regulares de educação básica, nada me restava além de esperar o fim do ano e uma nova leva de vestibulares - e foi justamente essa falta de ocupações que quase me fez perder a cabeça.
Passei todo o ano de 2011 desejando com todas as minhas forças o dia em que um processo seletivo desse o ar da graça e me levasse pra qualquer canto. Queria ir embora, queria viver coisas novas, conhecer gente nova (coisa que a condição de morar desde que me entendo por gente na mesma cidade de trinta e poucos mil habitantes não permitia), aprender a me virar no mundo e, mais que tudo, ocupar a cabeça e ter algo realmente produtivo a fazer. No comecinho de 2012, me inscrevi no SiSU e fui chamada para fazer Ciências Biológicas na Universidade do Estado da Bahia - UNEB, em Paulo Afonso. Interior da Bahia, cidade que eu já conhecia, pertinho de casa... Mas fiquei feliz porque tudo que eu mais queria naquele momento (continuar estudando, morar fora, conhecer gente, etc etc) estava ali, na minha frente, esperando eu estender os braços e tomar pra mim.
 Hoje faz um ano e uns 2 ou 3 meses que eu comecei minha vida nova. Conheci um monte de gente, comecei a faculdade, me apaixonei perdidamente por um curso que incialmente não era exatamente o que eu queria (amor construído: taí uma das coisas que eu passei a acreditar), revi milhares de conceitos, reaprendi a fazer amizades, aprendi na maioria das vezes errando e meio tropeçando, me tornei hoje uma pessoa muito mais forte, muito mais racional e, mais que isso, aprendi que eu consigo me virar e lidar com minhas próprias emoções, por mais difícil que isso seja. O problema é que, mesmo assim, ainda parece que falta alguma coisa.
Se eu fosse escolher uma música que representa o meu momento de agora, eu escolheria (sem dúvida alguma) Terra de Gigantes, do Engenheiros do Hawaii. Na música, o eu-lírico canta que "hey mãe, eu tenho uma guitarra elétrica / durante muito tempo era tudo que eu queria ter/mas, hey mãe, alguma coisa ficou pra trás/ antigamente eu sabia exatamente o que fazer". É como se a minha guitarra elétrica fosse esse sonho, essa ânsia de ir embora e de respirar tudo que era novo. E que no meio disso tudo, eu tenha esquecido um pedaço de alguma coisa perdida em qualquer canto. E que eu começasse a sentir falta exatamente do certo, do automático, daquilo que eu já sei como fazer desde sempre, daquilo que eu sempre vivi, todos os anos da minha vida.
Hoje eu conto os dias pra que chegue o fim de semana, únicamente pra voltar pra minha casa, pra minha cidade, pra minha zona de conforto - aquela mesma que eu desejei com tanta força deixar pra trás - como se a minha fonte de energia, de força, de vontade pra ir em frente se encontrasse no único lugar no mundo onde eu consigo me sentir em casa: exatamente o lugar onde eu passei 17 anos da minha vida e que vive em mim, por mais que eu vá pra longe. 

Um beijo,
Carol Meireles.

Woodstock: Os 3 dias que mudaram o mundo

Muito se faz e se fala em termos de shows e festivais. Ano após ano, apaixonados por música desembolsam algumas centenas de reais em eventos musicais, em busca de entretenimento e diversão, mas foi pagando apenas 18 dólares quase meio milhão de pessoas acompanharam aquele que seria um dos maiores (se não o maior) festivais da história mundial: o Woodstock Music & Art Fair


Realizado numa fazenda em Bethel (NY, EUA) entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, reuniu cerca de 33 artistas, dentre os quais destaco Jimi Hendrix, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin e Santana, que trataram de animar o público que ansiava por diversão. Foram vendidos aproximadamente 168 mil ingressos antecipados e o público estimado eram de 200 mil, mas o que se viu nos dias do festival foi uma multidão de mais de 400 mil pessoas derrubando cercas, provocando congestionamentos e invadindo a fazenda que seria palco do evento que marcou a história da música. 

Uma reflexão sobre... Casamento Civil Igualitário



Pra início de conversa, devo lembrar ao leitor mais desatento que o nosso país – uma República Democrática – é regido por uma Constituição Federal e todas as leis em vigor em território nacional devem ser compatíveis com o seu texto. A nossa Constituição dedica uma parte considerável apenas para esclarecer os “direitos e deveres fundamentais”, inerentes a cada cidadão – brasileiro nato ou naturalizado – e é nessa parte que está um trecho que é, talvez, o mais importante de todo o documento. O trecho em questão é a introdução do Art.5º, que diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” e é exatamente esta passagem que vai servir de base pro que você lerá a seguir. 

Imagem: Lidi Amaral
Muita gente (entre homens e mulheres), quando faz planos pro futuro, inclui casamento em tal planejamento. Alguns vão mais longe: pensam em como seria a cerimônia (neste caso, a união civil), idealizam o cônjuge ideal, imaginam se comunhão ou separação de bens seria mais acertado e, até mesmo, a casa perfeita pra comportar isso tudo. Acontece que algumas pessoas tem esse sonho barrado por nascerem diferentes e, simplesmente por amarem alguém do mesmo sexo, estão condenados a viver a margem daquele que deveria ser um direito constitucional: o matrimônio.
Alguns argumentam que a homossexualidade é “anti-natural”, mas sabe-se que o ser humano não é a única espécie que apresenta tal “comportamento”, outros se apoiam na religião para defender a ideia de que uma união homoafetiva é algo a ser repudiado, mas esquecem que o Brasil é um estado laico e nenhuma crença deve interferir na formulação de leis. Ora, se o país protege constitucionalmente a liberdade de exercício de toda ou qualquer crença (ou mesmo a falta desta), qual o sentido de uma única crença (que pode até ser da maior parte da população, mas não é a da sua totalidade) reger mesmo a vida daqueles que não creem nela? Outros alegam que o objetivo de um casamento é a procriação, mas seguir esta lógica seria afirmar que casais estéreis – ainda que formados por um homem e uma mulher – não poderiam firmar um matrimônio. Outros ainda falam em “ditadura gay”, como se a garantia da igualdade de direitos entre homossexuais e heterossexuais ferisse o orgulho do segundo grupo, que sabe-se lá porque se julga superior.
O primeiro passo, no Brasil, foi reconhecer a União Estável entre pessoas do mesmo sexo, mas ainda não é o suficiente, visto que o ideal é que tanto casais homoafetivos quanto heteroafetivos tenham direitos iguais no que se diz respeito não só a união, mas também ao casamento civil – objeto de luta da campanha pelo Casamento Civil Igualitário. Para homens e mulheres heterossexuais, nada mudaria. Para homens e mulheres homossexuais, bissexuais e/ou transexuais, seria uma conquista incomparável: a garantia da permissão para amar livremente, constituir família e realizar aquele que é o sonho de muita gente, como citei no começo deste mesmo texto. Então, porque haveria algum problema permitir que gays se casem, se não iria alterar em absolutamente nada a vida de quem não é gay?
O problema, prezado leitor, é que o brasileiro tem confundido liberdade de expressão com liberdade de opressão. É muito fácil dizer que os LGBT quer “direitos demais” quando todos os direitos que a classe busca já são assegurados por lei para quem é heterossexual. É muito fácil dizer que alguém escolhe ser gay quando não se sente o preconceito, a violência e a intolerância na pele. E é mais fácil ainda é afirmar que homossexualidade é sinônimo de promiscuidade, quando é você mesmo que milita por uma constituição familiar quadrada e retrógrada, que se encaixaria perfeitamente em um folhetim global passado na década de 20.

Um beijo,
Carol Meireles