Pra início de conversa, devo
lembrar ao leitor mais desatento que o nosso país – uma República Democrática –
é regido por uma Constituição Federal e todas as leis em vigor em território
nacional devem ser compatíveis com o seu texto. A nossa Constituição dedica uma
parte considerável apenas para esclarecer os “direitos e deveres fundamentais”,
inerentes a cada cidadão – brasileiro nato ou naturalizado – e é nessa parte
que está um trecho que é, talvez, o mais importante de todo o documento. O
trecho em questão é a introdução do Art.5º, que diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade” e é exatamente esta passagem que vai servir de base pro que
você lerá a seguir.
Imagem: Lidi Amaral |
Muita gente (entre homens e
mulheres), quando faz planos pro futuro, inclui casamento em tal planejamento.
Alguns vão mais longe: pensam em como seria a cerimônia (neste caso, a união civil), idealizam o cônjuge ideal, imaginam se comunhão ou separação de bens
seria mais acertado e, até mesmo, a casa perfeita pra comportar isso tudo.
Acontece que algumas pessoas tem esse sonho barrado por nascerem diferentes e, simplesmente
por amarem alguém do mesmo sexo, estão condenados a viver a margem daquele que
deveria ser um direito constitucional: o matrimônio.
Alguns argumentam que a
homossexualidade é “anti-natural”, mas
sabe-se que o ser humano não é a única espécie que apresenta tal “comportamento”,
outros se apoiam na religião para defender a ideia de que uma união homoafetiva
é algo a ser repudiado, mas esquecem que o Brasil é um estado laico e nenhuma
crença deve interferir na formulação de leis. Ora, se o país protege constitucionalmente
a liberdade de exercício de toda ou qualquer crença (ou mesmo a falta desta),
qual o sentido de uma única crença (que pode até ser da maior parte da
população, mas não é a da sua totalidade) reger mesmo a vida daqueles que não
creem nela? Outros alegam que o objetivo de um casamento é a procriação, mas seguir
esta lógica seria afirmar que casais estéreis – ainda que formados por um homem
e uma mulher – não poderiam firmar um matrimônio. Outros ainda falam em “ditadura
gay”, como se a garantia da igualdade de direitos entre homossexuais e
heterossexuais ferisse o orgulho do segundo grupo, que sabe-se lá porque se
julga superior.
O primeiro passo, no Brasil, foi reconhecer
a União Estável entre pessoas do mesmo sexo, mas ainda não é o suficiente,
visto que o ideal é que tanto casais homoafetivos quanto heteroafetivos tenham
direitos iguais no que se diz respeito não só a união, mas também ao casamento
civil – objeto de luta da campanha pelo Casamento Civil Igualitário. Para
homens e mulheres heterossexuais, nada mudaria. Para homens e mulheres homossexuais,
bissexuais e/ou transexuais, seria uma conquista incomparável: a garantia da
permissão para amar livremente, constituir família e realizar aquele que é o
sonho de muita gente, como citei no começo deste mesmo texto. Então, porque
haveria algum problema permitir que gays se casem, se não iria alterar em
absolutamente nada a vida de quem não é gay?
O problema, prezado leitor, é que
o brasileiro tem confundido liberdade de expressão com liberdade de opressão. É
muito fácil dizer que os LGBT quer “direitos demais” quando todos os direitos
que a classe busca já são assegurados por lei para quem é heterossexual. É
muito fácil dizer que alguém escolhe ser gay quando não se sente o preconceito,
a violência e a intolerância na pele. E é mais fácil ainda é afirmar que
homossexualidade é sinônimo de promiscuidade, quando é você mesmo que milita
por uma constituição familiar quadrada e retrógrada, que se encaixaria
perfeitamente em um folhetim global passado na década de 20.
Um beijo,
Carol Meireles
0 pitaco(s):
Postar um comentário
Fale o que pensa, comentários são bem vindos, educação também :)